Como esquecerei aquelas mãos que a cada madrugada invadiam meu corpo
Como se de um mandato se tratasse..
Aquele bafo forte, corpo nojento e pesado.
Impregnado em mim noite após noite, sem consultar minha vontade!
Ainda me lembro das inúmeras gritarias na calada da noite,
Das dores no meu corpo, das lágrimas em minh'alma..
Do gelar do meu peito, do apazíguo da minha voz...
Você talvez não saiba, mas não existe coisa pior que se olhar ao espelho e se sentir inútil.
Minha boca dizia algo..
Meu retrato mostrava beleza, mas o sussurrar da minha mente gritava —fútil.
A sociedade me chama vítima.
Meu agressor, diz que eu o seduzia com roupa íntima..
Minha mãe chora, se culpa, mas tenta ser destemida..
Então, me encoraja, mostra bravura, mas no fundo sente-se culpada!
Mas, e eu. O que digo?
Já perguntaram-me o que sinto?
Se morri ou se ainda vivo?
Será que sou vítima, ou apenas traçadora do meu destino?
Sinceramente, eu não sei!
Mas, também não vou negar que tantas vezes em agonia eu fiquei..
Meu coração sangra, mas minha boca cala.
Não me condenes, porque ele me ameaçava sempre que enfiava a cana...
Incentivaram-me a odiar, mas, eu não quero outro alguém magoar
Então pra frente eu vou caminhar
Sem no passado pensar
E no ar, uma luz vou encontrar..
Não interessa quanto veneno minh'alma bebeu,
Eu sei que vou vencer e minha história mudar
Por isso declaro: não quero mais este eu!
Texto: Dorcas Tamele
Revisão: Yolanda de Jesus & Celvicta
'E'ntrecho
